Quando ouve o termo acupunctura começa logo a ter visões com agulhas dançantes, certo? Mas cada vez mais Portugueses e milhões de americanos que tentaram a técnica sabem que na acupunctura há muito para além de picadas de agulhas.
Uma visita típica a um acupunctor pode começar com um exame de língua seguido da tomada de seu pulso em vários pontos e de uma sondagem ao seu abdómen. Há 2 500 anos atrás não tinham ressonância magnética ou raios X, tiveram que usar outros meios para avaliar o que se passa internamente.
Os procedimentos de diagnóstico dão pistas sobre a colocação das agulhas, mas uma visita a um acupunctor pode também incluir uma discussão cuidadosa de sua dieta e dos seus hábitos pessoais, recomendações para evitar certos alimentos ou tomar suplementos de ervas e uma variedade de tratamentos adicionais em consultório – como escovar a pele ou um tipo de sucção da pele conhecido como Escavação – que juntas caem sob o amplo guarda-chuva da medicina tradicional chinesa.
Pergunta-se se isto funciona? Descobrir se cada uma dessas práticas pode ser terapeuticamente viável pode ser um desafio, e determinar como todas elas podem funcionar em conjunto é praticamente impossível. Combine-as com as referências frequentes dos acupunctores ao “qi” ou ao fluxo de energia, e torna-se fácil para muitas pessoas não começar ou prosseguir um tratamento pela incerteza e certo misticismo que tal lhe transmite.
Comparar o tratamento tradicional com a acupunctura
Meta-análises recentes (Acupuncture for Chronic Pain Individual Patient Data Meta-analysis) que avaliam a investigação existente sobre um tópico comparam o tratamento de acupunctura ao tratamento médico padrão (do tipo de envolver exames e medicamentos de um médico) para as dores músculo-esquelética, dores de cabeça crónicas e osteoartrite. Também equiparou a acupunctura real à acupunctura “simulada”, um procedimento em que as agulhas são inseridas aleatoriamente para fazer com que os pacientes acreditem que estavam recebendo acupunctura quando não estavam.
Comparando a acupunctura legítima com o tratamento padrão, depararam com um benefício estatisticamente significativo para os tratamentos de acupunctura. “Vimos ali um efeito mensurável” explica Andrew Vickers, um bio matemático do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, co-autor da meta-análise. “Se a acupunctura fosse uma droga, diríamos que a droga funciona”.
Quando Vickers e sua equipa compararam a acupunctura legítima à acupunctura falsa, esse benefício persistiu, mas diminuiu. Segundo Vickers existem várias maneiras de interpretar o sucedido, “Pode ser que a acupunctura tenha um grande efeito placebo, ou então é mesmo devido aos pontos de pressão” – os locais precisos em que as agulhas são inseridas – “são menos importantes do que os acupunctores defendem”, explica.
A Acupunctura é um placebo?
Muitas pessoas associam efeitos placebo a logros. “O termo placebo sempre teve essa conotação muito negativa”, diz Vitaly Napadow, director do Centro de Neuroimagem de Dor Integrativa da Harvard Medical School. Mas Napadow diz que a má opinião sobre o placebo precisa ser revista. O corpo humano possui sistemas integrados para alimentar ou acalmar a dor e outras sensações subjectivas. “Se um placebo pode atingir e modular esses sistemas endógenos, isso é positivo, bom e real”, refere.
Mas a acupunctura pode ter efeitos ainda mais profundos que o placebo. Napadow conduziu dezenas de estudos de imagem cerebral sobre acupunctura, num esforço para determinar exactamente como o tratamento pode ou não acalmar a dor ou condições relacionadas, como dor de cabeça ou artrite. Avança que existem várias maneiras de a acupunctura funcionar e o mecanismo específico pode depender do tipo de condição que se está tentando tratar.
Uma possibilidade é de ao ser picado com uma agulha é induzida uma lesão minúscula, fazendo com que o sistema imunológico responda enviando proteínas inflamatórias e outras substâncias químicas que curam a infecção e causam infecção à fonte dessa lesão. “Existe a ideia de que ao induzir muitas dessas muito pequenas lesões se está incrementando o sistema imunológico para que ele possa lidar com problemas maiores” refere Napadow.
Também é possível que o aumento do fluxo de sangue e produtos químicos do sistema imunológico para o local da picada ajude a eliminar os subprodutos celulares acumulados que podem desencadear ou piorar uma condição como fascite plantar ou tendinite. “Ou as agulhas podem activar os receptores nervosos na pele, que passam informações para a espinhal medula e o cérebro”. “Essa informação pode desencadear uma mudança na fisiologia do cérebro, como a liberação de endorfinas ou tipos de neurotransmissores que podem diminuir a sensação de dor associada a algo como fibromialgia”.
A investigação de Napadow confirmou alguns desses potenciais mecanismos. Um de seus estudos (Traditional Chinese Acupuncture and Placebo (Sham) Acupuncture Are Differentiated by Their Effects on μ-Opioid Receptors (MORs)) evidenciou que após a acupunctura legítima, os receptores opioides neuronais estavam mais disponíveis ou receptivos aos produtos químicos naturais para aliviar a dor do corpo. Não houve essa alteração após a acupunctura falsa. Um opioide neuronal é um composto químico psicoactivo que produza efeitos farmacológicos semelhantes aos do ópio.
Basicamente, significa que os receptores opioides estavam mais disponíveis ou receptivos aos tipos de hormonas e substâncias químicas do corpo que ajudam a aliviar a dor.
Napadow refere que mais estudos analisaram o efeito da expectativa nos resultados da acupunctura – se pelo facto das pessoas acreditarem no tratamento terão mais benefícios do que aquelas que não acreditam. As evidências sugerem que a expectativa não melhora a eficácia da acupunctura. “Muitas vezes, é o marido que diz que a esposa o fez experimentar que tem o maior benefício”.
Acupunctura e a dor crónica
Associando essas descobertas promissoras ao facto de que a acupunctura é uma opção de tratamento de baixo custo com muito poucos efeitos colaterais, Napadow sustenta que faz sentido considerá-la uma parceira útil da medicina ocidental – especialmente quando se trata de doenças crónicas relacionadas com a dor, onde a medicina ocidental geralmente depende de analgésicos. “Não vai curar o cancro” refere, “Mas poderá ser eficaz para gerir os efeitos colaterais da radiação ou quimioterapia – como a dor, a neuropatia e a náusea”.
