O aumento dos custos e a dificuldade em segurar propriedades contra riscos climáticos estão a colocar pressão crescente sobre comunidades e proprietários no Canadá. Peter Routledge, responsável máximo da entidade reguladora financeira do país, advertiu que, com a escalada dos danos causados por eventos climáticos extremos, muitas pessoas poderão ter que relocalizar-se, à medida que os custos de seguro se tornam proibitivos. Em discurso proferido na Conferência Nacional de Seguros do Canadá, em Vancouver, Routledge destacou que a questão não é apenas regulatória, mas também uma questão de viabilidade económica. Ele afirmou que os imóveis em áreas de maior risco poderão enfrentar custos de seguro mais elevados, ou em alguns casos, ser abandonados, sendo uma realidade difícil de aceitar, mas inevitável devido às mudanças climáticas.
O impacto do aumento dos custos de seguros
Com as perdas catastróficas associadas a desastres naturais a aumentar significativamente, várias seguradoras no Canadá têm enfrentado desafios financeiros. As inundações em Toronto, os incêndios florestais nas províncias ocidentais e a tempestade de granizo devastadora em Calgary, que atingiu quase um em cada cinco lares, são exemplos recentes. O Bureau de Seguros do Canadá relatou que mais de 228.000 reclamações de seguros foram feitas em julho e agosto de 2024, representando um número recorde em duas décadas. Esta tendência reflete-se nas contas das maiores seguradoras do país, como a Intact Financial Corp., que registou perdas muito superiores ao previsto.
Áreas de maior risco podem tornar-se “desertos de seguros”
Embora o Canadá ainda não tenha experienciado “desertos de seguros” na escala de áreas da Flórida ou Califórnia, onde o seguro se tornou inacessível, as áreas mais vulneráveis a desastres naturais no Canadá, como a Colúmbia Britânica (afetada por sismos e inundações), já estão a enfrentar restrições nas coberturas de seguros. O número crescente de eventos extremos está a forçar a revisão de produtos de seguros, com muitos a restringirem as suas coberturas. Esta situação leva a que algumas comunidades enfrentem a decisão difícil de relocalização, uma solução vista como inevitável, mas complexa.
Seguros e mudanças climáticas
A indústria de seguros está a adaptar-se lentamente ao novo panorama de riscos associados às alterações climáticas. O aumento das perdas catastróficas coloca desafios não só para as seguradoras, mas também para os reguladores e os governos que precisam de garantir que os sistemas de seguros continuem a ser viáveis. A incerteza quanto à previsibilidade e à magnitude dos desastres naturais é um dos maiores obstáculos enfrentados pelas seguradoras, que são obrigadas a ajustar os seus modelos de risco e as políticas de cobertura para garantir a sustentabilidade dos seus negócios.
Medidas governamentais para mitigar riscos
Face ao agravamento das condições meteorológicas, o governo canadiano está a implementar políticas de mitigação e adaptação. Uma dessas iniciativas inclui a criação de regulamentos mais rígidos para a construção em áreas de risco elevado e a exigência de que as seguradoras tenham cobertura suficiente para lidar com desastres naturais. Além disso, há um esforço contínuo para promover a adoção de soluções de resiliência climática, tanto para empresas como para particulares, de forma a reduzir o impacto económico de eventos extremos no futuro.