Veículos eléctricos e desenvolvimento sustentável (2)

Veículos eléctricos e desenvolvimento sustentável (2)

terraA continuação do artigo de Ph. Dr. Jeffrey D. Sachs, Veículos eléctricos e desenvolvimento sustentável.

Em primeiro lugar, haverá muitos tipos de veículos eléctricos, incluindo os híbridos eléctricos, os veículos só com bateria e os veículos movidos por pilhas de hidrogénio, essencialmente uma bateria alimentada por uma fonte externa de hidrogénio. Estes variados veículos estarão em condições de aproveitar inúmeras fontes de energia.

As energias solar, eólica ou nuclear – nenhuma delas emite CO2 – podem alimentar a rede eléctrica que irá recarregar as baterias. Da mesma forma, estas fontes de energia renovável podem ser usadas para separar as moléculas de água em hidrogénio e em iões hidroxilos, e depois usar o hidrogénio para alimentar a pilha de hidrogénio.

Em segundo lugar, a capacidade de armazenamento da frota automóvel desempenhará um importante papel na estabilização da rede eléctrica. Não só os veículos alimentados por baterias irão buscar energia à rede eléctrica durante a recarga, como também, quando estiverem no parque, podem alimentar a rede durante os períodos de pico da procura. A frota de automóveis em circulação fará parte integrante da rede global de distribuição de energia eléctrica e será gerida de forma eficiente (e à distância) para optimizar os fluxos de recarga na rede e de devolução de electricidade à rede.

Em terceiro lugar, os veículos movidos a electricidade irão dar origem a um novo mundo de automóveis “inteligentes”, no qual os sistemas de sensores e comunicações veículo-para-veículo permitirão a protecção contra colisões, engarrafamentos no trânsito e gestão remota do veículo. A integração da tecnologia de informação e o sistema de propulsão do veículo introduzirão, assim, novos padrões de segurança, comodidade e manutenção.

Estas são ideias visionárias, mas estão ao alcance das tecnologias. No entanto, a implementação destes conceitos exigirá novas formas de parceria público-privada.

As fabricantes automóveis, “utilities”, fornecedores de banda larga e construtoras de vias rodoviárias estatais terão de contribuir para um sistema integrado. Todos estes sectores irão requerer novas formas de competir e de cooperar com os outros. O sector público terá de disponibilizar mais fundos para permitir que a nova geração de veículos chegue à fase de comercialização – através de investimentos em I&D, subsídios ao consumo e apoio a infra-estruturas complementares (por exemplo, os pontos de recarga nos locais públicos).

A nova era do veículo eléctrico exemplifica as extraordinárias oportunidades que podemos agarrar à medida que formos fazendo o nosso caminho de transição da insustentável era dos combustíveis fósseis para uma nova era de tecnologias sustentáveis. Os actuais responsáveis por negociarem protocolos para o clima não conseguem chegar a acordo porque vêem as alterações climáticas unicamente em termos negativos: quem irá pagar para reduzir a utilização de combustíveis fósseis?

Ainda assim, a visão de Burn para os automóveis recorda-nos que a transição para a sustentabilidade pode operar verdadeiros progressos na qualidade de vida. Isto acontece não só com os automóveis, mas também com os sistemas energéticos, concepção de edifícios, planeamento urbano e sistemas de alimentação (lembre-se de que a produção de alimentos e os transportes são responsáveis por cerca de um sexto das emissões totais de gases com efeito de estufa).

Temos de repensar no desafio climático como uma oportunidade para organizar um “brainstorming” de cooperação a nível global com vista a uma série de avanços tecnológicos que nos permitam alcançar o desenvolvimento sustentável. Ao associarmos a engenharia de ponta e novas formas de parcerias público-privadas, podemos acelerar a transição a nível mundial para tecnologias sustentáveis, com benefícios tanto para os países ricos como para os pobres – e, dessa forma, descobrirmos uma base para acordos globais sobre alterações climáticas que até agora se revelaram impossíveis.

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