Seguros de saúde, sistemas de saúde e a gestão de risco

Seguros de saúde, sistemas de saúde e a gestão de risco

Portugal e o mundo estão concentrados e zelosos quanto ao recente surto do novo coronavírus e da doença Covid-19 que dele deriva. Um desafio aos sistemas de saúde portugueses e de todo o mundo a que as seguradoras de saúde estão atentas.

O relatório ‘Riscos Globais dos Negócios 2020’ do WEF – Fórum Económico Mundial, uma elaboração conjunta da Zurich e da Marsh coloca em evidência estes riscos. A emergência de novas pressões nos sistemas de saúde relacionadas com a transição estrutural que vem sendo observada em termos sociais, demográficos, tecnológicos, ambientais e económicos, é precisamente uma das conclusões.

A maior incidência de doenças crónicas, associadas ao envelhecimento nos países desenvolvidos e a estilos de vida pouco saudáveis, reforça essa conclusão. O buzz mediático em torno da Covid-19 ou de outras doenças contagiosas não disfarça preocupações anteriores quanto a ameaças à saúde global como as doenças crónicas como as cardiovasculares, o cancro, as doenças mentais e a diabetes mellitus.

As doenças crónicas sobrecarregam infra-estruturas e recursos dos sistemas de saúde, como evidencia o relatório do Fórum Económico Mundial: mais pessoas com doenças graves, a necessitar de apoio prolongado no tempo significa mais despesas e o risco dos sistemas de saúde nacionais que podem não conseguir responder de forma adequada e eficaz.

As epidemias e doenças crónicas não são, infelizmente, os únicos desafios que se colocam. Factores de risco emergentes como o movimento anti vacinas, a resistência aos antibióticos, o aumento da esperança média de vida, a poluição e os efeitos das alterações climáticas desequilibram a procura e a oferta nos sistemas de saúde mundiais, colocando-os em alta pressão. Qual a dimensão deste risco?

O estado dos sistemas de saúde tem sido objecto de reflexão por todo o mundo e especialmente discutidos em Portugal, particularmente porque o sector enfrenta enormes desafios. Os 40 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) permitiram uma melhoria sem precedentes na saúde pública, mas o acréscimo das doenças crónicas impõe dificuldades à capacidade de resposta. A longo prazo, sabemos que em 2050 seremos o país mais envelhecido da União Europeia.

Vitais para o bem-estar, segurança e prosperidade dos países, os sistemas de saúde são, historicamente, um sinal de progresso. Mas, e no futuro? Com as condicionantes actuais e as que sabemos que vêm aí – mais epidemias, mais poluição, mais episódios climáticos extremos, o aumento da longevidade – torna-se essencial criar novos caminhos que mantenham a eficácia dos sistemas de saúde nas próximas décadas. Até porque sistemas enfraquecidos são menos eficazes a travar doenças, a cuidar de doentes crónicos ao longo do tempo e, não menos importante, a combater fake news sobre cuidados de saúde.

Nesta adaptação a um novo contexto, é necessária uma reflexão profunda entre todos os stakeholders, na procura de soluções partilhadas de apoio à saúde pública. As doenças crónicas, o coronavírus e as epidemias são ameaças sem precedentes. Para além de serem questões de saúde, são igualmente questões económicas e políticas. Urge pensar na saúde e bem-estar das pessoas e comunidades fortalecendo a capacidade de resposta holística dos países a estas ameaças. Em alturas de alta pressão dos sistemas de saúde, a gestão de risco é a medicação a receitar.

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