A venda das seguradoras da Caixa passo a passo

O fim da semana passada foi a altura para o Governo dar mais um passo na “quase novela” da venda das seguradoras do grupo Caixa Geral de Depósitos, tanto são os episódios e tanto se arrasta no tempo.

Na quinta-feira passada, o executivo fixou a data limite de 11 de Novembro para os potenciais investidores apresentarem as suas propostas de compra.

venda das seguradoras da Caixa

Mais concretamente, qualquer interessado em adquirir as seguradoras Fidelidade, Multicare e Cares, terá que fazer chegar a sua proposta até às 17 horas de 11 de Novembro, uma segunda-feira.

Deste modo e até lá, ainda teremos por certo muitas notícias sobre eventuais pretendentes, dando aqui mais algum tempo de antena a este caso que tem agitado o usualmente monótono panorama da atividade seguradora em Portugal, e que temos hesitado em abordar aqui, pois são mais as conjeturas que os factos.

Facto é que o Conselho de Ministros aprovou finalmente nos últimos dias de Agosto, o caderno de encargos da privatização das três seguradoras, que juntas detêm uma quota superior a 30 por cento do mercado português de seguros.

Caderno de Encargos

Para selecionar as melhores propostas, o Governo decidirá com base em nove critérios diferenciadores, sendo o principal, o preço.

Seguem-se as restantes 8 linhas orientadoras:

  • A percentagem de capital social com que o proponente pretender ficar;
  • A metodologia proposta para a aquisição das empresas;
  • O melhor interesse patrimonial para o Estado, sobretudo no que se refere ao encaixe financeiro e impacto para a CGD;
  • A qualidade do projeto apresentado;
  • A preservação da unidade estratégica do grupo segurador;
  • A contribuição para a manutenção da capacidade económico-financeira das empresas seguradoras;
  • A minimização de condicionantes jurídicas, laborais ou económico -financeiras para a concretização da compra;
  • A idoneidade e capacidade financeira do comprador, assim como a experiência no setor segurador.

O executivo determinou ainda nessa mesma data, que a segunda fase do processo de privatização, que entretanto foi iniciada a 9 de Setembro, contava com os chineses Fosun International Limited e os norte-americanos Apollo Management International.

Na realidade, estes são os pretendentes já confirmados até à data. Ambas as instituições, ou melhor dizendo, ambos os fundos de investimento, ultrapassaram a primeira fase, mas como acabou de ler, outros concorrentes ainda se lhes podem juntar.

Soube-se que três outros pretendentes ficaram entretanto pelo caminho, uma vez que eram cinco as propostas de compra das seguradoras nacionais no fim da primeira das fases.

Quanto a estas propostas sino-americanas, sabe-se que os norte-americanos do Apollo pretendem a aquisição da totalidade das ações das companhias de seguros e que a proposta dos chineses do Fosun não é total, apontando apenas para a compra de 70% da sociedade Alfa e 51% da sociedade Beta, os dois veículos criados na operação de venda para concentrarem as atividades dos seguros.

Apollo Management International

Os norte-americanos da Apollo estão nesta disputa a convite de Gustavo Guimarães, que a título individual, encabeça atualmente o grupo de empreendedores nacionais que apostam na atividade seguradora nacional. O empresário português espera que o fundo norte-americano, cotado na NYSE e com uma capitalização de mercado de cerca de 8.3 mil milhões de euros venha assim a estabelecer-se em Portugal e a cá ficar.

Grupo Fosun

Quanto aos chineses, também têm estatuto bem reconhecido.

O consórcio Fosun, é mesmo um dos mais lucrativos grupos privados da China, e o seu presidente, Guo Guangchang, foi já mesmo considerado como “o Warren Buffett Chinês”.

O grupo Fosun foi fundado em 1992 por jovens licenciados de uma universidade de Xangai, onde ainda tem a sua sede. Tem investimentos em variados setores, como o imobiliário, turismo, saúde, indústria farmacêutica, seguros, media, publicidade e minas.

Numa incursão mista entre seguros e turismo, tinha já dado nas vistas em junho, ao associar-se ao grupo AXA para comprar 92% do capital do Club Mediterranée, a icónica cadeia hoteleira francesa, com cerca de 80 resorts em 40 países.

Segunda fase

Pese o facto de só as duas entidades referidas acima terem passado para a segunda fase, as restantes três concorrentes no fim desta primeira fase, que foram afastados, podem ainda associar-se criando uma joint-venture com os candidatos que transitaram para a segunda fase.

Comissão de acompanhamento

O Executivo nomeou já a Comissão Especial de Acompanhamento à privatização das companhias de seguros do grupo Caixa Geral de Depósitos.

José Manuel Costa, Diogo Leite Campos e Jorge Vasconcelos foram escolhidos para integrar a comissão que visa contribuir para o sucesso da operação de reprivatização destas seguradoras, sendo responsabilidades da mesma, a definição das melhores práticas a adotar, e os padrões de transparência e isenção que defendam o interesse público.

Os três membros serão remunerados e as suas funções serão extintas assim que a privatização estiver concluída.

Relembre-se que foi o memorando de entendimento assinado entre Portugal e o Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, no âmbito do programa de apoio financeiro a Portugal, que determinaram a venda da Caixa Seguros e Saúde.

Neste processo de venda, a Caixa já vendeu a sua divisão no setor da saúde – o grupo HPP, à brasileira Amil, por um saldo positivo de 40 milhões de euros.

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